Parte da identidade, a voz diz muito sobre nós, até como está a saúde

Embora existam vozes quase idênticas, pode se dizer que todas são comparáveis a impressões digitais, ou seja, cada voz é única. Elas "nascem" na laringe, um tubo no pescoço que contém dentro de si cordas (pregas) vocais. Num movimento expiratório, o ar que sai dos pulmões então faz com que essas pregas vibrem e interajam entre si, produzindo som. Mas, para que esse som amplifique e se transforme em fala, requer a participação da língua, lábios e palato (céu da boca).
"Dito isto, começa-se a entender que alguns fatores da qualidade vocal podem ser geneticamente herdados, como as estruturas anatômicas envolvidas. Porém, também há relação com o ambiente, pois carregamos traços vocais das pessoas com as quais convivemos, o que pode tornar as vozes ainda mais parecidas", explica Henrique Moura, coordenador do Departamento de Fonoaudiologia da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Contudo, Moura continua que a forma como utilizamos a laringe pode mudar completamente o som que é emitido. É o que fazem cantores, para atingir notas mais agudas e graves, ou imitadores e dubladores. Eles ajustam o trato vocal. Mas não dá para assumir uma nova voz assim. Para que ela se aproxime da identidade, caso sejam incompatíveis, ou haja a presença de distúrbios vocais, cabem treinos (fonoterapia) para não lesionar as pregas vocais e cirurgia.
Finas, grossas, baixas, altas
A voz, além de ser influenciada pelo que já foi apontado (características físicas, como formato e tamanho de laringe, pregas vocais, órgãos fonoarticulatórios, e ambiente, onde se aprende a modular, articular, entonar e ressonar de forma parecida), também tem relação com idade, gênero, personalidade e estado de humor.
Em mulheres e crianças, tende a ser mais fina, devido, em ordem, às primeiras terem pregas vocais mais estreitas e tensionadas, então vibram com maior frequência e agudez e, nos pequenos, serem igualmente estreitas, mas ainda curtas.
Os meninos, quando chegam à puberdade, por conta dos hormônios masculinos, apresentam um aumento de massa nas pregas vocais que altera a voz, e essa transformação é chamada de "muda vocal". As cordas vibram com menor intensidade, resultando numa voz mais grossa. Mas quando o desenvolvimento não é funcional, pode sair fina e, nas mulheres, infantilizada.
Nos homens, em geral, o mais comum é uma voz grave, devido às suas pregas vocais serem maiores e mais espessas. "Tem a ver também com cavidade oral ampla, língua grande e pescoço longo. Pessoas menores normalmente tendem a ter uma voz mais aguda. Porém, mesmo assim, podemos usar as estruturas acima das pregas para modular o timbre vocal", esclarece Clayson Alan dos Santos, otorrinolaringologista do Hospital Cema, em São Paulo.
Quanto à intensidade vocal, é obtida primordialmente pela quantidade de ar que o pulmão é capaz de ejetar sobre as cordas vocais. Quem grita, exala o ar em grande volume e velocidade e aproxima as cordas vocais.
Falar alto ainda se relaciona com a necessidade de se impor, ser ouvido. Nesse sentido, os traços comportamentais contam muito. Pessoas mais extrovertidas e autoritárias tendem a falar com mais força e as tímidas, submissas a falar mais fraco ou baixo.
Revelam vários tipos de doenças
Dor de garganta e resfriado podem ser diagnosticados pela voz, que fica gutural, anasalada e pigarrenta, mas não são as únicas doenças. Alterações na voz podem ser sinais de problemas localizados, que afetam especificamente o trato vocal, ou sistêmicos, que atingem o corpo todo, inclusive a fala.
As pregas vocais, por exemplo, podem ser acometidas por nódulos, conhecidos como calos, causados por abuso vocal ou infecções, como o papiloma laríngeo.
Uma voz "cavernosa" por mais de 14 dias em quem bebe ou fuma há anos também pode ser sinal de câncer de laringe. Já voz soprosa e dificuldade para se alimentar, consequências de paralisia em uma prega vocal ocasionada por AVE (acidente vascular encefálico).
Voz grave ou falhada junto com tosse seca e secreção crônica levanta suspeitas sobre lesões em pregas por refluxo gastroesofágico. E voz fraca e arrastada é observável em pacientes com depressão.
A lista é longa, afirma Milena Adorno, fonoaudióloga do Hospital São Rafael, em Salvador (BA). "Miastenia gravis, ataxias, alterações hormonais, neoplasias, leucoplasias, síndromes, esclerose lateral amiotrófica. Doenças neurodegenerativas também modificam a intensidade vocal, como Parkinson", complementa Adorno.
Além disso, a altura da voz tem relação com a audição. Se a pessoa ouve mal, tende a falar mais alto porque acha que a própria voz é baixa.
Voz envelhece, mas nem todas
Como todo o organismo, a voz também a por modificações inerentes ao envelhecimento, algumas mudam completamente, outras nem tanto, varia de pessoa para pessoa. Nas mulheres, pode enfraquecer, tremular, ou engrossar e, nos homens, afinar.
Com a idade, as pregas vocais tendem a ficar mais atrofiadas e afiladas. Cavidade oral, língua, ligamentos e músculos também sofrem declínios, como reduções de tônus, elasticidade e coordenação.
"O ficar rouco não é uma consequência da idade. Pode-se adquirir uma voz mais grave, com um pouco mais de aspereza ou menor potência, mas rouquidão sugere algum problema de saúde e requer investigação médica, até para que se houver uma lesão, não fique rouco pelo resto da vida. Alteração do timbre por envelhecimento da voz (presbifonia) é diferente", alerta Natan Chehter, geriatra membro da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).
Com indicação e orientação de especialistas, exercitar o aparelho fonador não só previne alterações na voz, mas também evita problemas associados à deglutição no último terço de vida. Vale ainda se precaver e mudar certos hábitos.
Para manter a voz jovem por mais tempo hidrate-se regularmente e evite gritar, abusar de álcool, cigarro, alimentos gelados e picantes, ar-condicionado, dormir pouco e falar/cantar em excesso sem antes fazer aquecimento vocal.
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